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segunda-feira, 29 de março de 2010

Mulher de Jack White, modelo Karen Elson faz sucesso na música


Todos sabem que a vida é injusta, mas se você precisar de um refresco, é só ouvir Karen Elson, a supermodelo ruiva, musa da moda e mulher de Jack White, do White Stripes, cantar.

Lá estava ela, numa noite de segunda-feira em Nova York, no Le Poisson Rouge, no West Village, apresentando canções de seu álbum de estreia, numa voz que pode ir do estilo retrô das cantoras roucas ao canto tradicional em poucas notas. Era a quarta parada de uma rápida mini-turnê que incluía Nashville, onde ela e White moram com seus dois filhos, e Austin, no Texas, onde ela tocou no festival de música South by Southwest. Os shows tinham a intenção de apresentar Elson como mais do que apenas um rostinho bonito, ou mesmo uma voz bonita, mas como uma artista independente.

Em cada apresentação ela subia ao palco com um vestido vintage tingido de pêssego e uma guitarra Gibson Style O, de 1917, para dar uma prévia de seu álbum, The Ghost Who Walks, produzido pelo marido roqueiro (que toca bateria no disco) e previsto para sair em 25 de maio.

No show de Nova York, uma espécie de volta às origens, a plateia estava cheia de gente da moda e da música: a baixista Melissa Auf der Maur; Agyness Deyn, modelo e ditadora de tendências; Grace Coddington, editora da Vogue. A última sentou-se perto o suficiente para que Elson pudesse mostrá-la seus sapatos de camurça coral -batizados de Karen-, feitos especialmente para ela por Tabitha Simmons, também da Vogue.

White não estava presente - ele está em turnê na Austrália com a Dead Weather, banda da qual alguns membros também tocam com Elson. Seus companheiros de banda incluem Mark Watrous (que também tocou com os Raconteurs, outra banda de White), no violino e na guitarra de pedal, e Jackson Smith - filho de Patti e marido de Meg White- na elétrica. O vídeo da música título de seu álbum, no qual Elson canta e toca enquanto sua banda fica nas sombras, já coleciona mais de 54 mil exibições no YouTube.

Não é assim que a maior parte das bandas começa. Mas, longe de descartar sua carreira de modelo e seus colaboradores famosos, Elson é sincera sobre as vantagens que eles conferem.

"Se eu não fosse modelo, nunca teria estado perto de músicos interessantes, nem mesmo teria a capacidade financeira de dizer 'Não preciso trabalhar agora, posso sentar e fazer meu disco'", disse na manhã seguinte ao show no Poisson Rouge, tomando vários cafés no Breslin do Hotel Ace. Apesar de ser voltada à música há muito tempo, "nunca poderia ter feito esse disco há cinco anos", diz ela. "Ele só poderia ser feito com Jack." Eles se casaram em 2005.

Elson não é a primeira modelo a se juntar com um músico, ou aspirar fazer a transição da passarela para o palco. Gravar um álbum é uma ambição que nos remete pelo menos até Twiggy, mais recentemente atraindo lendas dos desfiles como Kate Moss e Naomi Campbell (Você com certeza deve se lembrar de La La La Love Song).

"Depois de Carla Bruni, imagino que toda modelo pegue uma guitarra", disse Dmitry Komis, curador e escritor que foi ao show no Poisson Rouge acompanhado do estilista Zaldy, que veste o Scissor Sisters e nomeou Elson como uma de suas musas ("Ela é tão verdadeira", disse).

Elson, 31, começou na guitarra -e no gravador- há cerca de uma década, quando morava em East Village, e aprendeu sozinha a tocar. Desde 2004, ela se apresenta com a Citizens Band, um ato de cabaré político que ajudou a formar. Antes de deixar sua cidade natal perto de Manchester, na Inglaterra, para ser modelo, aos 16 anos, ela foi vocalista de uma banda de salsa.

"Sempre estava cantando quando criança", disse. "Sinceramente, é o que eu sempre quis fazer. Mas, na verdade, eu duvido que teria feito" se não fosse modelo.

Crescendo em uma "cidade sonolenta e amarga do norte da Inglaterra", diz ela, "não esperavam nada de mim. Você crescia, se casava, tinha filhos e talvez trabalhasse no supermercado. Você não aspirava a nada grandioso".

A carreira de Elson na moda é mais do que grandiosa; ela desfilou ou posou para quase todos os principais estilistas e fotógrafos, fez campanhas para Yves Saint Laurent e Chanel, estampou incontáveis capas de revistas e realmente não precisa mais de um sobrenome.

Então, apesar das credenciais musicais, ela agora precisa batalhar pela atitude que foi resumida por um fã em um dos shows em Austin: "Ela é ótima", disse ele enquanto Elson cantava em uma pequena loja pop da Third Man, gravadora de White. "Quer dizer, olhe para ela. Olhe para ela!"

Informada sobre o comentário, Elson deu de ombros. "Você sabe, com modelos, as pessoas viram os olhos", disse. Ela mesma era uma delas. "Durante anos acreditei que isso tinha que ser um projeto pessoal", afirmou, sobre sua música. Ela tinha medo do ridículo: "é como se eu estivesse tentando chamar mais atenção. Fui cuidadosa porque se há algo ruim por aí, é duplamente ruim porque você é modelo. Do tipo: olha, fique com seu emprego antigo".

Agora ela está na posição de ser escrava de sua beleza -porque é uma grande parte do que faz as pessoas se interessarem por ela- e lutar contra isso.

Seu álbum tende ao estilo americana sombrio e livre, tanto na instrumentação quanto nos temas. Elson escreveu a parte de guitarra e as letras, e a banda e White fizeram o resto. Elson diz que ouviu a antologia folk de Harry Smith, Smithsonian, para inspiração. No palco, de olhos fechados, ela balança como uma cantora folk dos anos 1960.

A faixa título vem de um apelido que ela tinha quando criança -Elson diz que era caçoada por sua aparência-, mas a história é ainda mais horrível: é sobre um homem que mata sua amante. "Você já esteve em uma relação em que você vê um brilho nos olhos da pessoa com quem está e é, tipo, uau, você é assustador, você me odeia?", disse ela. "Antes do Jack, havia muita ansiedade nos homens com quem eu saía, por eu ser modelo ou talvez ganhar mais dinheiro do que eles."

Ela reconhece que viver em Nashville a ajudou a ganhar perspectiva. Ela e White montaram uma casa lá há cinco anos e têm dois filhos: Scarlett, 3, e Henry, 2.

Ela escreveu grande parte do álbum em seu closet e gravou-o com White e amigos no estúdio de seu quintal (O mercado imobiliário também é injusto).

Ainda assim, o festival South by Southwest, mesmo com todos os conhecidos e a badalação, foi intimidante para Elson. "Me colocaram com todos os tipos da indústria: 'Certo, garota, cante' -senti muito como se estivesse à prova", disse.

Seus dois shows no festival não causaram muito impacto no que Amrit Singh, editor-executivo do blog de música Stereogum, chamou de "o complexo músico-crítico" -ele não assistiu a Elson. Existe sempre "uma sobrancelha levantada" na cobertura de artistas "cruzados", disse. "Pode não ser justo, mas estamos mal acostumados por anos de estrelas de reality show desafinadas", escreveu em um e-mail.

Os cruzamentos decepcionantes incluem a modelo Deyn, cujo projeto musical atrai muito menos atenção do que seu estilo pessoal. Mas também há sucessos. She & Him -composto pela atriz Zooey Deschanel e o músico indie M. Ward- arrebatou críticos e ouvintes com um bom casamento entre músicas contagiantes e público-alvo, disse Singh.

White não respondeu aos pedidos de comentários. Mas ele participou ativamente do marketing do álbum, disse Kris Chen, vice-presidente da gravadora XL Recordings, que está lançando The Ghost Who Walks pelo selo de White. Mas o álbum "foi carregado pela voz dela", disse Chen.

Questionada sobre quem seria a audiência para sua música, Elson disse: "Não faço ideia". Ainda assim, planeja turnês, provavelmente sem White. "Desenvolver meu equilíbrio, é como eu descrevo."

Elson não pretende desistir de ser modelo. "Acho que seria muito pretensioso - 'Desculpe, agora sou música'", disse. "Em vez de encarar como um tipo de algema dourada, posso simplesmente apreciar isso. Só espero que possa melhorar a ideia de modelo/algo. Só espero poder fazer justiça a isso."


The New York Times

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