Brent Havens se lembra bem da primeira ocasião em que tentou unir a música do Led Zeppelin a uma orquestra sinfônica. Foi em 1995, quando ele experimentou inicialmente o conceito com a Orquestra Sinfônica da Virgínia.
"Não tínhamos ideia de que como deveríamos proceder, e por isso organizamos um concerto só, em um teatro com mil lugares" disse Havens, arranjador e maestro que vive em Virginia Beach. "Os ingressos se esgotaram em um dia. E nós imediatamente percebemos que, opa, lá estava algo de interessante".
O evento deu origem a uma lucrativa tendência artesanal que combina o rock e a música clássica e apresenta as orquestras sinfônicas a novas e numerosas audiências. Havens e seu programa com a música do Led Zeppelin chegarão neste sábado (16) à Flórida, em um concerto da Orquestra Sinfônica da Flórida no Ruth Eckerd Hall.
Combinar rock e música clássica nada tem de novidade. Nos dias de glória do rock progressivo, nos anos 60 e 70, gigantes híbridos caminhavam pelo planeta: Procol Harum, Moody Blues, Yes, Genesis, Emerson, Lake & Palmer e outras bandas flertaram com o uso de orquestras sinfônicas.
E o rock nunca hesitou em recorrer a cordas expressivas, dos Beatles em The Long and Winding Road à brilhante combinação entre o Metallica e a San Francisco Symphony no disco S&M.
O Led Zeppelin contou com a ajuda da Orquestra Filarmônica de Londres, para gravar Kashmir: The Symphonic Led Zeppelin, mas o álbum era mais orquestra que Zep, porque não trazia vocais, guitarra, bateria ou baixo. No programa de Havens, a orquestra basicamente serve como banda de apoio a cinco roqueiros (entre os quais Randy Jackson, o vocalista da Banda Zebra), que levam ao palco o estilo de Robert Plant & companhia.
"Temos iluminação pesada de rock, com gelo seco e globos espelhados, a produção toda", diz Havens. "A orquestra inteira está microfonada. Não estamos falando de um concerto de música pop em modo sinfônico, mas de um show de rock escancarado".
Havens, 53, fundou a Windborne Music, e a companhia tem cinco programas diferentes de rock clássico para os quais ele escreveu os arranjos e rege a orquestra. Além do Led Zeppelin, os programas envolvem a música do Pink Floyd, Eagles, Doors e Queen, o mais recente.
Anos atrás, a orquestra da Flórida apresentou o programa do Pink Floyd, no Mahaffey Theater, com sólido público de 1.781 pessoas, ou mais de 90% da capacidade. "Não só tivemos casa cheia mas uma audiência nova para uma sinfônica", disse Sherry Powell, diretora de comunicação e marketing do teatro. "Foi divertido fazer algo de relevante para pessoas que normalmente não assistem a concertos de orquestras".
No entanto, não existe grande prova de que as incursões da orquestra ao repertório do Pink Floyd, Led Zeppelin e outras bandas clássicos tenha resultado em um novo público para o som sinfônico. "Dois anos atrás, nós mostramos a Sinfonia Senhor dos Anéis, e o espetáculo recebeu bom público", disse Henry Adams, diretor associado de marketing e comunicação do teatro.
Havens escreveu arranjos orquestrais para 30 canções do Led Zeppelin, e o concerto de sábado mostrará cerca de 18 delas, sem dúvida incluindo favoritos como Black Dog, Going to California e, claro, Stairway to Heaven. Ele essencialmente transcreve para orquestra as partes instrumentais do disco original, porque é isso que os fãs esperam ouvir.
"É espantoso descobrir como as pessoas conhecem bem a música dessas bandas¿, diz Havens. "Elas sabem todas as partes de guitarra, cada nuança do fraseado da letra. É por isso que tentamos manter os nossos concertos o mais perto que pudemos do original. Creio que ficaria decepcionado se fosse a um espetáculo sobre a concepção de alguém mais quanto à música do Led Zeppelin".
Será que isso significa que o guitarrista George Cintron toca tão bem quanto Jimmy Page?
"Ele domina completamente o estilo", diz Havens. "A maior parte dos solos foram tirados fielmente. O solo de Heartbreaker, onde só a guitarra toca, mostra Cintron improvisando por cinco ou seis minutos, e ele certamente segue o espírito do original".
E o baterista Powell Randolph faz o grande solo que John Bonham costumava fazer em Moby Dick, embora não durante os 20 minutos usuais nos solos de Bonzo. "Não deixo que Powell sole por todo aquele tempo. Mas o solo é impressionante", diz Havens.
O motivo que atraiu Havens originalmente à música do Led Zeppelin foi o fato de que um dos maiores sucessos do grupo, Kashmir, já tinha partes de cordas e metais. O desafio dele ao escrever a orquestração para as canções foi criar partituras interessantes.
"Esse era realmente o ponto crítico, que o som não parecesse brega, ou uma imitação barata", afirma. "O que eu queria era oferecer a elegância que ele merece".
Havens não queria que a orquestra simplesmente tocasse apenas semibreves para acompanhar a banda. "Evitar as bolas de futebol americano (as notas semibreves) sempre foi uma das minhas preocupações", afirmou. "Mas, no caso de uma ou duas canções, isso é quase necessário. Como em Going to California ¿ eu tenho cordas de acompanhamento melodioso, lá. No caso da maioria das canções, uso melodias contrapontais e muitas estruturas harmônicas ricas no som da orquestra".
Mesmo depois de anos de esforço em seus arranjos para a música do Led Zeppelin, Havens continua a ser fã da lendária banda de heavy metal. "As complexidades rítmicas e harmônicas que eles estavam usando - as afinações diferenciadas das guitarras, os acordes montados sobre outros acordes - continuam a me intrigar. Meu respeito por eles aumentou ainda mais depois que transcrevi toda sua música, ao iniciar o processo".
The New York Times
Fonte:http://musica.terra.com.br
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