"Sentiram minha falta? Adivinhe quem está de volta?" Fora de combate por cinco anos, é com o mesmo nhenhenhém de álbuns pregressos que Marshall Mathers, mais conhecido como Eminem, anuncia seu retorno sob a tutela do produtor, amigo e padrinho Dr. Dre. Sexto CD do rapper americano de 36 anos, Relapse reúne no mesmo pacote de 20 faixas zombaria (tanto em letras, quanto nos clipes) e versos autobiográficos desgastados. Alguém ainda tem interesse em ouvir (pela enésima vez) quais são os problemas com drogas enfrentados pela mãe do cantor?
"Minha mãe ama Valium e muitas outras drogas / É por isso que sou como sou, porque sou como ela!", canta em My mom, parecendo não se importar com a resposta. O discurso pode não ter mudado, mas a saúde, quanta diferença. Dependente de remédios e opiáceos, o cantor precisou sofrer uma overdose em 2007 e ser internado numa clínica de reabilitação no ano passado para largar seus vícios: ele diz estar sóbrio há um ano e dois meses.
Perseguição a Lindsay Lohan
Por outro lado (o da faceta Slim Shady, alterego sem-noção do rapper), insiste em fazer chacota com celebridades. Desta vez, mulheres são os principais alvos. We made you traz citações jocosas a Jessica Simpson, Ellen DeGeneres, Sarah Palin, Amy Winehouse e Lindsay Lohan. Fenômeno pop entre os adolescentes, Hannah Montana é sinônimo de masturbação em 3am. Lindsay é a estrela de Same song & dance, sobre o sonho do rapper em estrangular a atriz americana.
As obsessões de Eminem estão firmes e fortes. Estupros são narrados de múltiplos ângulos. Em Insane, por exemplo, um padrasto estupra o próprio filho. Mas nada é tão doentio quanto a fixação que o rapper tem com o ator Christopher Reeve, morto há cinco anos. O americano famoso por ter vivido Super-Homem no cinema não sai da cabeça de Eminem. A tradicional imitação feita pelo cantor surge mais uma vez, em Medicine ball: "Você nunca cabe em meus sapatos / Ou na minha fantasia do Superman".
Quando abandona as paródias e piadas de sua porção engraçadinha, Eminem tange a originalidade, como em Déjà vu. São raros os momentos em que não está ocupado enfileirando celebridades ou tentando chocar. Os versos auto-depreciativos permanecem no cardápio. Quando as pílulas escapam da capa do disco e das fotos do encarte para as letras, Eminem rende mais. Com sample de Reaching out, do Queen, Beautiful é mais uma em que dá um tempo no humor negro. A canção destaca perguntas sobre o futuro de Eminem no rap e começou a ser rascunhada num quarto de hospital, quando buscava a desintoxicação.
O humorístico Zorra Total está há uma década no ar sem muitos acidentes de percurso, mas isso não é motivo para ficar repetindo piada como se não houvesse amanhã. Da próxima vez que Eminem disser que está de volta aos holofotes e deixar no ar a pergunta "Sabe aquela da mulher que foi perseguida e estuprada por mim?", o melhor a fazer é fingir que não ouvimos.
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